segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Fio da Navalha

Demorei mas consegui, acabei de ler "O Fio da Navalha". A muito tempo sou fã da duas versões do cinema, mas fiquei absolutamente encantado com o livro. O autor, com muita habilidade, consegue introduzir o leitor no ambiente da narrativa, pois é incrível a riqueza de detalhes de cada passagem descrita. Segue o melhor resumo que encontrei na Internet.

Um oriente a oriente do oriente... Este verso de Álvaro de Campos é o mote ideal para uma possível leitura de O Fio da Navalha. Na obra de W. Somerset Maugham, Lawrence Darrell vê o seu melhor amigo morrer para lhe salvar a vida em plena I Guerra Mundial. Após o conflito, o jovem não conseguirá voltar a ser o rapaz socialmente privilegiado, alegre e despreocupado de outrora. Começa aqui uma viagem em torno do herói do romance do século XX: aquele que procura as respostas às suas dúvidas dentro de si mesmo.

Larry, o personagem central da narrativa, leva uma existência que poderia, se o narrador não deixasse o leitor de sobreaviso, parecer à primeira vista gratuita, sem sentido. As dúvidas do rapaz podem vir a ser a sua perdição, pensamos nós e os personagens que o rodeiam. Sim, porque o narrador só dá voz a quem gravita em volta de Larry, por determinado tempo ou por algum motivo. O narrador só fala para nos contar a história de Larry, tudo o resto, não sendo supérfluo, existe claramente em função do que Maugham nos pretende contar sobre o rapaz.A vertente psicológica da análise de uma personalidade fascinante e complexa é feita na terceira pessoa, ou seja, por uma visão exterior. Nem por isso perdemos a conta aos passos de Larry ou deixamos de conseguir ler o personagem. A análise social não fica de fora, já que tanto a razão de ser do livro, Larry, quanto o narrador convivem, durante grande parte da narrativa, com as classes abastadas. Além disso, a acção é passada entre os Estados Unidos e a Europa de início de século, sem contar com as viagens de Larry, que são demasiado íntimas para que o acompanhemos.Larry é um homem que procura a Verdade, procura a Sabedoria, procura a Paz, procura Deus. Noções maiúsculas que - diz-nos a experiência - quanto mais são desejadas e procuradas, mais verosimilhança perdem. O misticismo do livro é híbrido, já que Larry não se coíbe de realizar a sua demanda pelos trilhos da religião, da teologia ou da filosofia.

A inovação de romances como este O Fio da Navalha relativamente ao romance do século XIX é que, aqui, o narrador não faz pelo seu herói ou que ele não faz por si mesmo.

Somerset Maugham “extraiu” Lawrence Darrell de alguém que conheceu e que não sabemos quem terá sido. A distância, física e emocional, entre ele e o seu “objecto de trabalho” poderia dificultar-lhe a tarefa e levá-lo a cair na tentação de nos contar do rapaz aquilo que achava plausível que o rapaz fosse. Mas Maugham conta-nos apenas aquilo que sabe, o que é visível. Nós que adivinhemos tudo o resto. Larry que nos convença, que nos conquiste, que encontre ou não o que procura.Outra das inovações desta obra do escritor britânico (embora muitos o menosprezem por não ter inovado em termos de estrutura e de linguagem), e que é comum ao romance do século XX, consiste precisamente nesse “abandono” do personagem a si mesmo, aos seus próprios motivos, desejos e pensamentos. Embora não nos seja dado a ver o interior de Larry, as pistas que Maugham nos dá são suficientes para que vejamos no rapaz o protótipo do anti-herói da literatura do século XX, aquele que se desafia a si mesmo, que procura encontrar dentro de si mesmo o sentido da existência.O Fio da Navalha, a derradeira obra de Somerset Maugham, foi publicada em 1944. Talvez o seu autor não o soubesse então, mas a verdade é que o livro estava destinado a marcar as gerações futuras. Sem querer fazer de Maugham um escritor menor (Liza, a Pecadora ou Servidão Humana provam o contrário), O Fio da Navalha é, arrisco-me a dizer, a razão pela qual o escritor continuará a ser lido.

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